12/03/2020 às 06h47min - Atualizada em 12/03/2020 às 06h47min

"O policial que me agrediu foi o mesmo que pegou meu depoimento", diz agredida por PM em Mafra

nsctotal.com
A mulher que teve a perna fraturada após uma discussão com a PM no último dia 19 de fevereiro relatou o que aconteceu naquele dia. O caso veio à tona após a repercussão de um vídeo em redes sociais no qual a ação é registrada. A costureira Silvana de Souza, 39 anos, contou à reportagem do NSC Total que havia chegado em casa do trabalho, tomado banho e assistia à televisão quando ouviu o barulho de sirenes e de motos dos policiais. 
Segundo Silvana, o homem que havia sido perseguido pela Polícia Militar (PM) por estar com a placa da moto levantada e não ter parado ao comando dos policiais é vizinho dela e mora em uma casa nos fundos de sua residência. Ela afirmou que os policiais que foram chamados para prestar reforço à ocorrência entraram no terreno dela apontando armas de fogo e spray de pimenta.  
— Ali estavam minhas duas irmãs, cunhado e meus sobrinhos que são crianças de quatro e cinco anos, minha filha de 15 anos e minha sobrinha. Eles chegaram e entraram com arma apontada e espirrando spray de pimenta em todo mundo que estava ali — diz. 
Em entrevista, Silvana disse que não havia entendido o que estava acontecendo porque a ocorrência era com o vizinho mas os agentes entraram no terreno dela. Segundo ela, um dos agentes espirrou spray de pimenta em seu rosto. 
Eu nem questionei nada e o PM veio com spray de pimenta dentro do meu olho. Espirrou duas vezes dentro do meu olho. Eu retruquei: "meu Deus! O que é isso? Isso é abuso de autoridade. Como é que pode fazer uma coisa dessas?" — lembra. 

A costureira conta que, neste momento, começaram as agressões verbais. 
— Eu só tinha agredido verbalmente por causa do spray de pimenta no meu olho; o policial me deu voz de prisão e eu deixei porque no momento eu estava errada também, já que houve o xingamento da minha parte. Mas deixei ser presa e falei "tudo bem, pode me prender" — pontua. 

Conforme Silvana, os policiais a levaram até a viatura que já estava fora do terreno dela. Foi quando um dos agentes, segundo ela, deu o chute em uma de suas pernas, causando a fratura. Silvana caiu e bateu o rosto no chão. 
— Em momento algum eles foram recebidos com violência, como falaram nas redes sociais. Não era população, era uma família. Ninguém os agrediu com pau, ripa, barra de ferro, como eles declaram nas redes sociais  — reforçou ela na entrevista. 
Costureira foi levada ao hospital 
Silvana conta que foram os vizinhos quem solicitaram atendimento médico. Ela foi encaminhada à emergência do hospital pelos bombeiros. Já internada, foi procurada pela Polícia Militar.

— O policial que me agrediu foi o mesmo que pegou meu depoimento no hospital — revelou.

O tenente-coronel Marcelo Pereira, da 2ª Região da Polícia Militar, da Guarnição Especial de Mafra, informou que ainda não tinha acesso ao auto de flagrante na manhã desta quarta-feira e, por isso, não podia confirmar se o policial militar que realizou a agressão também foi o responsável por colher o depoimento. À tarde, o comandante informou que a informação não era verdadeira.
— O policial que assina o auto de flagrante não é o mesmo que aparece no vídeo — respondeu o tenente-coronel.

Após três dias do episódio, Silvana procurou a Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (Dpcami) de Mafra para prestar novo depoimento. Entretanto, segundo ela, o delegado responsável não conseguiu acesso ao processo e, por isso, permaneceu o primeiro depoimento. 

Outra preocupação de Silvana, neste momento, é em relação ao trabalho. 

— Trabalho todos os dias para colocar o alimento dentro de casa. Dependo da minha perna pra trabalhar e agora a situação está bem complicada porque são quatro meses de atestado em casa, e não sei quando posso voltar a trabalhar. Não sei quando vou conseguir receber da previdência — afirma. 
Inquérito de investigação foi instaurado
Um inquérito policial militar foi instaurado na semana seguinte à abordagem para apurar o que aconteceu na ocorrência e as imagens registradas pelas câmeras foram enviadas ao Ministério Público, que acompanha o caso. A mulher será ouvida pela PM durante o inquérito, assim como outros envolvidos na ação.

No dia em que a situação aconteceu, em 19 de fevereiro, a Polícia Civil concluiu o auto de prisão em flagrante e prendeu algumas das pessoas envolvidas na discussão. Conforme a Polícia Civil, foi entendido que não houve abuso de autoridade por parte dos policiais e que a fratura na perna da mulher ocorreu em decorrência de atitudes necessárias por parte da Polícia Militar ao tentar contê-la.
Entretanto, ainda conforme a Polícia Civil, o delegado plantonista que atendeu o caso, Nelson Vidal, não havia tido acesso às imagens, e apenas tinha como provas os relatos de testemunhas e dos policiais. A prisão e o auto em flagrante foram concluídos no mesmo dia e encaminhados ao Ministério Público.
PM emitiu nota de esclarecimento

Nesta terça-feira (10), a Polícia Militar emitiu uma nota de esclarecimento afirmando que "os policiais militares são treinados no uso progressivo da força, bem como, devem observar os protocolos operacionais. A ação foi filmada por câmeras táticas que equipam os policiais militares de todo o Estado. Instaurou-se inquérito policial militar, bem como, as imagens foram enviadas ao Ministério Público da Comarca que acompanha o fato". 
Leia o esclarecimento da Polícia Militar na íntegra: 

"Em relação a um vídeo compartilhado nas redes sociais que mostra a detenção de uma mulher, o Comando da Guarnição Especial de Mafra, vêm a público relatar os fatos, e situar a ação dentro do contexto:
No dia 19 de fevereiro de 2020, por volta das 18:30h, uma motocicleta (com placas levantadas e condutor demonstrando preocupação com a viatura), empreendeu fuga percorrendo vários bairros de Mafra, desrespeitando a sinalização e muito acima da velocidade permitida. No bairro Novo Horizonte, o condutor adentrou em terreno baldio e se escondeu nos fundos de uma casa, onde foi localizado e detido pelos dois policiais militares presentes. Nesse momento vários vizinhos se aproximaram e passaram a ameaçar de agressão física os policiais militares caso tentassem levar o detido e a motocicleta. Um dos envolvidos chegou a passar uma corrente e um cadeado no portão do terreno deixando a guarnição sem condições de sair com segurança, deixando claro o intento de investir contra a vida dos policiais militares. 
Esta mesma pessoa, de posse de um facão foi na direção dos policiais militares que utilizaram gás pimenta e conseguiram conter o agressor. Várias outras pessoas, de posse de pedaços de madeira, ferro e pedras ainda ameaçavam os policiais militares. Após chegar reforço a situação foi controlada, com exceção da mulher que aparece no vídeo a qual continuou desacatando os policiais militares sendo detida e conduzida. Ao ser levada para a viatura, sem algemas a princípio, demonstrou resistência, (conforme vídeo da câmera tática do policial militar) razão pela qual o policial que lhe conduzia fez uso da força, vindo ao chão, restando ferimentos superficiais no nariz, bem como, suspeita de fratura na perna esquerda. O corpo de bombeiros foi acionado para prestar atendimento. 
As ameaças persistiram enquanto a mulher era atendida, inclusive direcionadas de forma pessoal contra a família de um dos policiais militares presentes, o qual registrou boletim de ocorrência. Todos os detidos foram conduzidos a Delegacia de Polícia.  
O Comando da Guarnição Especial de Mafra esclarece que os policiais militares são treinados no uso progressivo da força, bem como, devem observar os protocolos operacionais. A ação foi filmada por câmeras táticas que equipam os policiais militares de todo o Estado. Instaurou-se inquérito policial militar, bem como, as imagens foram enviadas ao Ministério Público da Comarca que acompanha o fato."

Fonte: nsctotal.com
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